It’s not up to you to decide what happens here

[Português em baixo. This post is a translation of a blog discussing a class at INEAF facilitated by Prof. Valério Gomes (UFPA) and Prof. Gregory Thaler (UGA), published originally on the INEAF website.]

The discussion in the INEAF graduate course “Climate Change and Amazonia” this Tuesday, April 25th highlighted various concerns related to Earth Day, with the arrival of El Niño, the evolution of macroeconomic policies for regional development, and the situation of environmental (un)governance.

The conversation was facilitated by Prof. Valério Gomes – UFPA and Prof. Gregory Thaler – UGA, and engaged with the article “Projeto Amazônia 4.0: definindo uma terceira via para a Amazônia [Amazonia 4.0: a third path for Amazonia],” by Ismael Nobre and Carlos Nobre.

Prof. Thaler presented his research on anti-deforestation policies implemented in the context of PPCDAm [Plan for Preventing and Combating Deforestation in the Amazon] and showed linkages between various levels of local, regional, national, and global governance.

In this context, the goal of reducing deforestation was achieved, becoming a reference for international studies on the topic, although it occurred largely under a logic of command and control, and there was a displacement of deforestation to other areas in greater Amazonia, for example to Bolivia. In that country there was an increase in deforestation linked to the activities of groups connected to Brazilian agro-industry.

Over the course of the afternoon, the discussion culminated in the following questions: Do we, Amazonians, have or can we have a voice in what is discussed, produced, or imposed on the territory of which we are a part? Is knowledge construction genuinely local and anchored in an empistemology of traditional knowledge? Or do colonial sophistications operate currently through a logic that imposes a “Global South” vision linked to capital? Is it really true that “when the criterion is biodiversity, we are number 1 on the planet” (Ismael Nobre/Carlos Nobre)? When the forest is dead, will it be the foundation of development 4.0 or climate (un)control?

Class discussions also inspired reflection about the capacity of civil society institutions working in Amazonia to evaluate the failings and successes in their proposals that became public policy over the last decades. If we do not recognize the work of organized rural communities to diminish the effects of social inequalities and climate emergency and their potential to advance solutions, we will end up perpetuating the same problems created by capitalism. More than an Era of Change, we need a Change of Era for Amazonia.

Written by: Iná Camila, Carlos Ramos, and Ana Felicien – PPGAA Graduate Students

Não cabe a vocês decidirem o que acontece aqui

[Este blog trata de uma discussão de aula mediada por Prof. Valério Gomes (UFPA) e Prof. Gregory Thaler (UGA) e foi publicado originalmente no site do INEAF.]

O debate na disciplina “Mudanças Climáticas e a Amazônia” desta terça-feira, 25 de abril, pontuou diversas inquietações relacionadas ao dia da terra, com a chegada do Fenômeno “El Nino”, a evolução das políticas macroeconômicas de desenvolvimento regional e o cenário de (des) governança ambiental.

A discussão foi mediada pelo Prof. Dr. Valério Gomes - UFPA e o Prof. Dr. Gregory Thaler - Universidade da Geórgia, e teve como material de apoio o texto "Projeto Amazônia 4.0: definindo uma terceira via para a Amazônia", de Ismael Nobre e Carlos Nobre.

O professor Thaler apresentou sua pesquisa sobre as políticas contra o desmatamento que foram implementadas no contexto do PPCDAM e mostrou as articulações entre as diversas escalas de governança local, regional, nacional e global.

Nesse contexto, a meta de redução do desmatamento foi alcançada, sendo uma referência para pesquisas internacionais sobre o tema, porém prevaleceu uma lógica de comando e controle e ocorreu um deslocamento do aumento do desmatamento para outras áreas da Panamazônia como no caso da Bolívia. Nesse país houve um aumento do desmatamento ligado à atuação de grupos ligados ao agro brasileiro.

Ao longo da tarde, os tópicos abordados culminaram nas seguintes problematizações: Nós, Amazônidas, temos ou podemos ter voz sobre aquilo que é discutido, produzido ou imposto sobre o território do qual fazemos parte? A construção do conhecimento é genuinamente local e ancorado numa epistemologia dos saberes tradicionais? Ou a sofisticação da colonialidade opera, na atualidade, sob a lógica da imposição de uma visão sulista associada ao capital? Será mesmo que “quando o critério é biodiversidade, somos (Ismael Nobre/Carlos Nobre) o número 1 do planeta”? Quando a floresta estiver morta, ela terá papel fundamental no desenvolvimento 4.0 ou no (des) controle do clima?

As discussões na aula também provocaram reflexão sobre a capacidade das instituições da sociedade civil que atuam na Amazônia em avaliar seus erros e acertos em suas proposições que se tornaram políticas públicas nas últimas décadas. Sem reconhecer as construções de comunidades rurais organizadas para diminuir os efeitos das desigualdades sociais e emergência climática e sua potência em propor soluções, manteremos as mesmas problemáticas estabelecidas pelo capitalismo. Mais do que uma Era de Mudança, precisamos de uma Mudança de Era para Amazônia.

Texto: Iná Camila, Carlos Ramos, e Ana Felicien – Discentes do PPGAA/INEAF

A água e a ética hídrica

Um pescador e seu instrumento de pesca no fim de tarde na Resex Marinha de Soure. (A foto sacada por Neves durante suas pesquisas realizadas entre 2015 e 2019)

Um pescador e seu instrumento de pesca no fim de tarde na Resex Marinha de Soure. (A foto sacada por Neves durante suas pesquisas realizadas entre 2015 e 2019)

Cydney Seigerman, Donald Nelson, Evandro Neves e Pedro Paulo Soares (English version below)

As estruturas e as decisões envolvidas na gestão da água, e a pesquisa sobre elas, executam diferentes éticas, ou sistemas de valores, que muitas vezes são implícitas em decisões e ações. Frequentemente baseadas em considerações econômicas, éticas guiam decisões de maneira inculta com pouca consciência sobre subjacentes sistemas de valores. Embora, à medida que os sistemas de entrega de água continuam a sofrer tensão crescente, e escassez de água e desigualdades no acesso à água continuem a proliferar, explícitas considerações de ética é uma estratégia de abordar as deficiências atuais na gestão da água. Ao mesmo tempo, dado que os pesquisadores fazem parte dos sistemas que estudam, é importante avaliar reflexivamente como a pesquisadora contribui às dinâmicas de água. A ética como uma lente analítica cria espaço para avaliar as funções dos pesquisadores nos sistemas de água que estudamos, reavaliar as opções de gestão e promover práticas mais sustentáveis e equitativas.

Durante a última reunião da BNRGI de 2020, nós usamos a ética para abordar a água, a pesquisa sobre a água e as implicações de nossa presença como pesquisadores nas relações de água locais. Uma ética é uma sistema coerente de valores que indica como devemos nos comportar em circunstâncias particulares e nos ajudam a definir objetivos adequados e caminhos aceitáveis para atingir esses objetivos (Groenfeldt 2013). Os organizadores da reunião--Cydney Seigerman (UGA), Donald Nelson (UGA), Evando Neves (UFPA) e Pedro Paulo Soares (UFPA)--consideramos dimensões da ética em nossa pesquisa em Brasil sobre a gestão da água, conflitos sobre a água e a água como integral à memória socioecológica. A reunião destacou as formas como a ética e os valores desempenham papéis essenciais nas decisões e ações que envolvem a água. Neste post, nós discutimos as abordagens de ética hídrica faladas durante a reunião bem como questões reflexivas sobre ética como pesquisadores.

Figura 1. A tipologia da ética hídrica de Groenfeldt (2013) visualizada como sistemas sobrepostos de valores ambientais, sociais, culturais e econômicos.

Figura 1. A tipologia da ética hídrica de Groenfeldt (2013) visualizada como sistemas sobrepostos de valores ambientais, sociais, culturais e econômicos.

A ética tem que ver com decisões e comportamentos e tem implicações de longo alcance para definir e distribuir riscos, benefícios e responsabilidades associados às decisões de gestão da água. Como Nelson destacou durante a reunião, a ética hídrica pode ser categorizada como social, cultural, econômica ou ambiental (Groenfeldt 2013). Embora possa ser útil distinguir entre diferentes categorias de ética para entender os valores ou critérios que orientam a avaliação, julgamento e atitudes sobre a água, é importante lembrar que as dimensões dessas categorias podem se sobrepor. Os valores da água e a ética podem se enquadrar em uma ou mais dessas categorias e, como tal, juntas, as categorias podem ser pensadas como um diagrama de Venn de quatro vias (Figura 1).

Figura 2. As esferas éticas de ação de Cardoso de Oliveira e Cardoso de Oliveira (1996) e elaboradas no contexto da gestão da água por Soares (2016).

Figura 2. As esferas éticas de ação de Cardoso de Oliveira e Cardoso de Oliveira (1996) e elaboradas no contexto da gestão da água por Soares (2016).

A categorização da ética hídrica pode ajudar a elucidar os diferentes valores que sustentam as decisões e ações relacionadas à gestão da água. Além disso, as esferas éticas de ação são uma heurística útil para compreender a dinâmica da gestão da água em todos os níveis de análise (Cardoso de Oliveira e Cardoso de Oliveira 1996; Soares 2016). Durante o encontro, Soares explicou como os sujeitos (diferentes indivíduos ou grupos, incluindo residentes, técnicos e instituições internacionais), relações e valores podem variar nas esferas macro, meso e microética de ação (Figura 2).

Na cidade de Belém (PA), destacam-se diferentes facetas das relações cidade-água nessas esferas: enquanto a macroética é composta por determinantes globais, como as formas de financiamento internacional e os modelos escolhidos para projetos hídricos urbanos sob a orientação de instituições internacionais, a esfera mesoética envolve a realização de obras públicas e disciplinas incluindo gestores e técnicos de água. A esfera microética inclui as populações diretamente impactadas - e esperançosamente beneficiadas - pelas obras públicas urbanas, e as relações e valores que constituem a sua experiência vivida. Nós podemos entender cada uma das esferas de ação ética como abrangendo os tipos de ética explicada na categorização de Groenfeldt (Figura 3).

Figura 3. A tipologia de ética hídrica de Groenfeldt (2013) integrada nas esferas éticas de ação de Cardoso de Oliveira e Cardoso de Oliveira (1996) e Soares (2016).

Figura 3. A tipologia de ética hídrica de Groenfeldt (2013) integrada nas esferas éticas de ação de Cardoso de Oliveira e Cardoso de Oliveira (1996) e Soares (2016).

A dinâmica das relações hídricas nas esferas éticas de ação tem impacto e é afetada pela ética hídrica de grupos e indivíduos específicos. Em nosso encontro, Neves explicou como os conflitos entre pescadores artesanais e proprietários de terras resultaram de diferentes visões de propriedade e direitos a determinados recursos hídricos na Reserva Extrativista Marinha de Soure, localizada no arquipélago de Marajó, na Amazônia brasileira. Nessa região, fazendeiros que se consideram donos de nascentes dentro das unidades de conservação impedem os pescadores artesanais de pescar ali, embora os pescadores tenham garantido o direito a essas águas por meio do Contrato de Concessão de Direito Real de Uso (CCDRU). A pesquisa de Seigerman no Ceará destaca ainda mais a dinâmica das relações hídricas e como os conflitos relacionados à água frequentemente envolvem disputas sobre disparidades no acesso à água e quem (por exemplo, agricultores rurais, irrigadores em grande escala ou populações urbanas) tem o direito a quais recursos hídricos. Os processos hídricos são sociais e ecológicos, pois reservatórios, políticas locais e estaduais e padrões de chuva interagem e fazem parte de como a água é entendida na região. A ética hídrica considera questões sobre a regulamentação da água como um recurso e também expande as conversas para examinar os valores e significados locais da água.

Visto que consideramos a ética hídrica uma abordagem para estudar a dinâmica da gestão da água, é igualmente importante, como pesquisadores, avaliar nossos próprios papéis nas regiões em que trabalhamos. Seigerman explicou a ética de cuidado, colaboração e reciprocidade que ele traz para sua pesquisa, incluindo seu trabalho contínuo com grupos de teatro, bailarines, instituições e comunidades locais no Ceará.

Os papéis que assumimos em nosso trabalho - como cientistas ou artistas, ativistas políticos ou membros da comunidade - e as abordagens que desenvolvemos afetam as relações complexas que constituem nossas áreas de estudo. Embora possamos ou não buscar ativamente mudar essas dinâmicas, nossos enquadramentos impactam como essas relações são representadas e compreendidas. Nos comentários pós-reunião, Gregory Thaler (UGA) levantou questões sobre se é possível desenvolver abordagens que não “violem” a multidimensionalidade das realidades socioecológicas que estudamos. A maneira em que alguém responder a essa pergunta dependerá de suas visões de mundo e sua compreensão do que constitui a realidade. Perspectivas diferentes levarão a respostas diferentes. Mas refletir sobre como nossas abordagens teóricas podem impactar as perguntas e as observações que fazemos pode servir como um lembrete de como nossos conjuntos de valores, ou éticas, são fundamentais para nossas práticas de pesquisa.

Bibliografia selecionada

Biesel, S. and D.R. Nelson. 2019. A Importância da ética para a gestão da água. In Adapta: gestão adaptativa do risco climático de seca, pp. 407 - 418. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora.

Cardoso de Oliveira, R. and L. R. Cardoso de Oliveira. 1996. Ensaios antropológicos sobre moral e ética. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro.

Conquergood, D. 2002. Performance Studies: Interventions and Radical Research. TDR (1988-), 46(2), 145-156.

Groenfeldt, D. 2013. Water ethics: a values approach to solving the water crisis. Routledge.

Soares, P. P. d. M. A. 2016. Memória ambiental na bacia do UNA : estudo antropológico sobre transformações urbanas e políticas públicas de saneamento em Belém (PA). (PhD). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.

Oliver, K. 2015. Witnessing, Recognition, and Response Ethics. Philosophy & Rhetoric, 48(4), 473-493.

Water and Water Ethics

A fisherman and his fishing equipment in the Soure Marine Extractive Reserve during the late afternoon. (Photo taken by Neves during research carried out between 2015 and 2019)

A fisherman and his fishing equipment in the Soure Marine Extractive Reserve during the late afternoon. (Photo taken by Neves during research carried out between 2015 and 2019)

Cydney Seigerman, Donald Nelson, Evandro Neves and Pedro Paulo Soares

Water management structures and decisions--as well as research related to them--enact ethics, or value systems, which are frequently implicit in discussion and action. Often based on economic considerations, ethics quietly guide decisions with little conscious awareness of underlying value systems. However, as water delivery systems continue to experience increasing strain, and water shortages and inequalities in water access continue to proliferate, an explicit consideration of ethics is one way to begin to address current shortcomings in water management. At the same time, as researchers form part of the systems they study, it is important to reflexively evaluate how researchers contribute to water dynamics. Ethics as an analytical lens creates space to evaluate the roles of researchers in the water systems we study, to reevaluate management options, and to promote more sustainable and equitable practices.

During the final BNRGI meeting of 2020, we used ethics as a lens to examine water, water-related research, and the implications of our presence as researchers in local water relations. Ethics are “coherent systems of value” that indicate how we should behave in particular circumstances and help us to define proper objectives and acceptable pathways to achieve those goals (Groenfeldt 2013). The co-organizers--Donald Nelson (UGA), Evandro Neves (UFPA), Cydney Seigerman (UGA), and Pedro Paulo Soares (UFPA)--considered dimensions of ethics in their research throughout Brazil on water management, water conflicts, and water as integral to socioecological memory. The meeting highlighted how ethics and values play integral roles in decisions and actions involving water. In this post, we discuss the water-ethics frameworks introduced during the meeting, as well as reflexive questions about ethics as researchers.

Figure 1. Groenfeldt’s (2013) typology of water ethics visualized as overlapping systems of environmental, social, cultural, and economic values.

Figure 1. Groenfeldt’s (2013) typology of water ethics visualized as overlapping systems of environmental, social, cultural, and economic values.

Ethics are about decisions and behavior and have far-reaching implications for defining and distributing risks, benefits, and responsibilities associated with water management decisions. As Nelson highlighted during the meeting, water ethics may be categorized as social, cultural, economic, or environmental (Groenfeldt 2013). While it can be helpful to distinguish between different categories of ethics in order to understand the values, or criteria that guide the evaluation, judgment, and attitudes about water, it is important to remember that dimensions of these categories may overlap. Water values and ethics may fit into one or more of these categories, and as such, together, the categories may be thought of as a four-way Venn diagram (Figure 1).

Figure 2. Cardoso de Oliveira and Cardoso de Oliveira’s (1996) ethical spheres of action, subsequently elaborated in the context of water management by Soares (2016).

Figure 2. Cardoso de Oliveira and Cardoso de Oliveira’s (1996) ethical spheres of action, subsequently elaborated in the context of water management by Soares (2016).

The categorization of water ethics can help elucidate the different values that underpin decisions and actions related to water management. In addition, ethical spheres of action are a useful heuristic to understand the dynamics of water management across levels of analysis (Cardoso de Oliveira e Cardoso de Oliveira 1996; Soares 2016). During the meeting, Soares explained how subjects (different individuals or groups, including residents, technicians, and international institutions), relationships, and values can vary across macro-, meso-, and microethical spheres of action (Figure 2).

In Belém (PA), different facets of city-water relations are highlighted across these spheres: whereas the macroethical sphere is made up of global determinants, such as forms of international financing and the models chosen for urban water projects under the guidance of international institutions, the mesoethical sphere involves the carrying out of public work projects and subjects including water managers and technicians. The microethical sphere comprises the populations directly impacted--and hopefully benefited by--the urban public works projects, and the relationships and values that constitute their lived experience. We can understand each of the ethical spheres of action as encompassing the types of ethics explicated in Groenfeldt’s categorization (Figure 3).

Figure 3. Groenfedt’s typology of water ethics integrated into the three ethical spheres of action developed by Cardoso de de Oliveira e Cardoso de Oliveira (1996) and Soares (2016).

Figure 3. Groenfedt’s typology of water ethics integrated into the three ethical spheres of action developed by Cardoso de de Oliveira e Cardoso de Oliveira (1996) and Soares (2016).

The dynamics of water relationships within ethical spheres of action impact and are impacted by the water ethics of particular groups and individuals. In our meeting, Neves explained how conflicts between artisanal fisherfolks and landowners resulted from differing views of ownership and rights to particular water resources in the Marine Extractive Reserve of Soure, located on the Marajó archipelago of the Brazilian Amazon. In this region, landowning farmers who consider themselves owners of springs within the protected areas prevent artisanal fisherfolk from fishing there, even though fisherfolk are guaranteed the right to these waters through the Federal Real Use of Rights Concession Contract (CCDRU). Seigerman’s research in Ceará further highlights the dynamics of water relations and how water-related conflicts often involve disputes about disparities in water access and who (e.g., rural farmers, large-scale irrigators, or urban populations) has the right to what water resources. Water-related processes are both social and ecological, as dams, local and state-level policies, and rainfall patterns interact and form part of how water is understood in the region. Water ethics involves questions about the regulation of water as a resource and also expands conversations to examine local values and meanings of water.

As we use water ethics as a lens to study the dynamics of water management, it is equally important as researchers to evaluate our own roles in the areas where we work. Seigerman explained the ethics of care, collaboration, and reciprocity they bring to their research, including their ongoing work with theatre groups, dancers, institutions, and local communities in Ceará.

The roles we take on in our work--from scientists to artists, political activists, and community members--and the frameworks we develop affect the complex relations that comprise our areas of study. While we may or may not actively seek to change these dynamics, our framings impact how these relations are represented and understood. In the post-meeting comments, Gregory Thaler (UGA) raised questions about whether it is possible to develop approaches that do not “violate” the multidimensionality of the socioecological realities we study. How one responds to this question will depend on their worldviews and understanding of what makes up reality. Different perspectives will lead to different responses, yet reflecting on how our theoretical approaches can impact the questions we ask and the observations we make can serve as a reminder of how our sets of values, or ethics, as researchers are fundamental to our research practices.

Works cited and further readings

Biesel, S. and D.R. Nelson. 2019. A Importância da ética para a gestão da água. In Adapta: gestão adaptativa do risco climático de seca, pp. 407 - 418. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora.

Cardoso de Oliveira, R. and L. R. Cardoso de Oliveira. 1996. Ensaios antropológicos sobre moral e ética. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro.

Conquergood, D. 2002. Performance Studies: Interventions and Radical Research. TDR (1988-), 46(2), 145-156.

Groenfeldt, D. 2013. Water ethics: a values approach to solving the water crisis. Routledge.

Soares, P. P. d. M. A. 2016. Memória ambiental na bacia do UNA : estudo antropológico sobre transformações urbanas e políticas públicas de saneamento em Belém (PA). (PhD). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.

Oliver, K. 2015. Witnessing, Recognition, and Response Ethics. Philosophy & Rhetoric, 48(4), 473-493.

Ethnography of Natural Resource Governance

Prof. Gregory Thaler, co-director of BNRGI, in the Ecuadorian Amazon in 2007.

Prof. Gregory Thaler, co-director of BNRGI, in the Ecuadorian Amazon in 2007.

Ethnography was the topic of conversation for our BNRGI Lab Meeting on October 28th. Larissa Lourenço, Letícia Moraes, and Pedro Paulo Soares from UFPA co-organized the discussion with Raul Basílio and Gregory Thaler from UGA. Co-organizers shared reflections on how they think about and use ethnography in their research, and in the subsequent discussion participants drew connections between the presentations and shared additional insights. In this post, Prof. Thaler highlights some key themes and questions from the meeting.

Ethnography can be a totalizing methodology – it can encompass a perspective, a methodology, and a mode of analysis and writing. For some of us, ethnography is central to our identities as researchers, but ethnography can also be integrated with other methodologies.

Paradoxically, although ethnography can be a ‘total’ methodology, the contemporary ethnographic research field is explicitly understood as a fragment of social reality. We could say that ethnographers immerse themselves ‘totally’ in a fragment from which they hope to learn about a social ‘totality,’ to achieve a more holistic understanding of social phenomena. This dialectic between the fragment and the whole is central to ethnographic methodology, since a core precept of ethnographic practice is to critique or deconstruct prevailing (holistic) paradigms of knowledge and interpretation and to propose new understandings based on ethnographic experience.

In this process, the unique experience and standpoint of the ethnographer is fundamental, and is the ground for validating the ethnographic product. In other words, every research experience may be unique and valid insofar as the researcher utilizes an ethnographic perspective of reflexive participant-observation.

This ethnographic perspective seems to be one of the essential elements for defining a body of research as ‘ethnography,’ at least within the socio-cultural tradition in which most of us are working, but are other elements also indispensable?

In our own work, we find a great degree of plasticity or flexibility in both ethnographic practice and the modes of representation of ethnographic findings. How essential is ‘time in the field’ to ethnographic research, and how might we practice ethnography as an ‘immersive’ methodology under the constraints of a global pandemic?

Lastly, in a reflexive turn: this discussion sketches some of what ethnography means to us as practitioners, but what does ethnography mean to the participants in our research? And how do they perceive us as ‘ethnographers’? We hope to continue exploring these questions together.

Further reading:

Günel, Gökçe, Saiba Varma, and Chika Watanabe. “A Manifesto for Patchwork Ethnography.” Fieldsights, June 9, 2020. https://culanth.org/fieldsights/a-manifesto-for-patchwork-ethnography.

Participação na Conferência em Conservação Integrativa (ICC) 2020

Evandro Neves, doutorando do Instituto Amazônico de Agriculturas Familiares (INEAF), Universidade Federal do Pará

Evandro Neves, doutorando do Instituto Amazônico de Agriculturas Familiares (INEAF), Universidade Federal do Pará

Eu venho aprendendo ao longo da minha trajetória universitária que salas de aulas, laboratórios e bibliotecas oferecem condições importantes à formação de qualquer profissional. Mas considero também que parte essencial da vida acadêmica acontece fora desses ambientes.

Eu participei recentemente do Integrative Conservation Conference 2020 (Conferencia em Conservação Integrativa), entre 06 e 09 de fevereiro.

A ICC é uma iniciativa que acontece a cada dois anos (sua primeira edição foi em 2018) com objetivo de conectar disciplinas acadêmicas para promover soluções justas e inovadoras para os problemas atuais de conservação. A edição de 2020 foi organizada pelo Center for Integrative Conservation Research (Centro de Pesquisa em Conservação Integrativa) da Universidade da Geórgia (UGA), nos Estados Unidos. Neste texto, pretendo compartilhar minha experiência de participação nessa conferência internacional como estudante de pós-graduação do Instituto Amazônico de Agriculturas Familiares (INEAF), da Universidade Federal do Pará.

O instituto ao qual estou vinculado é voltado para a formação de profissionais cujo interesse científico é a problemática da agricultura familiar e do desenvolvimento sustentável na Amazônia. Para isso, adota enfoques interdisciplinares, multidisciplinares e transdisciplinares de modo a proporcionar a produção de conhecimento referentes aos temas centrais mencionados.

Minha participação na ICC 2020 foi relacionada à minha vinculação acadêmica com a Universidade Federal do Pará e ao tema da governança ambiental. Ela foi possível através de uma colaboração entre o Instituto de Estudos Caribenhos e Latino Americanos (LACSI) da Universidade da Geórgia e o INEAF. A parceria tem o propósito de desenvolver iniciativas para promover abordagens interdisciplinares a estudos relacionados à governança de recursos naturais entre estudantes e professores do Brasil e dos Estados Unidos. Por meio dela, recebi uma bolsa do LACSI para cobrir gastos com passagem aérea e hospedagem durante meus dias em Athens, cidade em que a conferência foi realizada. Ainda no âmbito dessa parceria, ressalto a Brazilian Natural Resource Governance Initiative (BNRGI), Iniciativa de Governança de Recursos Naturais do Brasil, uma rede profissional financiada pelo LACSI e formada por acadêmicos brasileiros e norte-americanos cujo fim é propor soluções aos problemas ambientais complexos referentes à governança ambiental.

Workshop BNRGI no dia 05 de fevereiro.

Workshop BNRGI no dia 05 de fevereiro.

Antes de mencionar propriamente o evento, devo ressaltar uma experiência anterior, mas vinculada a ele. Houve um Workshop organizado pelos membros do BNRGI no dia 05 de fevereiro que proporcionou o primeiro momento em que pude apresentar a minha pesquisa e receber feedbacks interessantes. E também me permitiu conhecer pesquisas e pessoas muito interessantes. Por exemplo, a relação entre o extrativismo e a pecuária nas estratégias de autoconsumo de extrativistas em uma Reserva Extrativista no Acre, desenvolvida por Bruno Ubiali, estudante do Departamento de Antropologia da UGA; Aprendizado Social em uma rede multiorganizacional que opera no Brasil e nos Estados Unidos, desenvolvida por estudantes brasileiros que estudam na Universidade da Flórida e liderada por Carolina de Oliveira Jordão, da Escola de Recursos Florestais e Conservação, da Universidade da Flórida; o mapeamento de riscos no sistema de abastecimento de água no Nordeste brasileiro por meio de metodologia participativa; desenvolvida por Gabriela de Azevedo Reis, discente do Departamento de Antropologia da UGA e do Departamento de Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Ceará; e o debate sobre extração de madeira em áreas protegidas na Amazônia, liderado por Ana Luiza Violato Espada, também da Escola de Recursos Florestais e Conservação da Universidade da Flórida. Na minha opinião, um dos benefícios promovidos pelo Workshop foi conhecer outras pessoas e suas respectivas pesquisas. Foi uma oportunidade de dialogar com profissionais que estão interessados nos mesmos temas que eu, mas estudam em universidades diferentes.

A conferência iniciou no dia seguinte do Workshop, durou três dias e incluiu seminários com temas relativos à conservação ambiental, apresentações orais de estudantes de graduação e pós-graduação e muitas palestras interessantes. Em uma das sessões do dia 07 (“Governança de recursos naturais brasileiros: em direção a uma abordagem integrativa”), fiz uma apresentação oral relacionada a uma pesquisa acadêmica iniciada em 2014 no projeto de pesquisa Recursos Naturais e Antropologia Social (RENAS III) do Museu Paraense Emílio Goeldi. Minha comunicação teve como objetivo elucidar a importância da participação comunitária na gestão da Reserva Extrativista Marinha de Soure, Marajó (PA).

Comunicação oral na Integrative Conservation Conference 2020, Athens (GA).

Comunicação oral na Integrative Conservation Conference 2020, Athens (GA).

Durante a comunicação, foquei em duas situações pontuais: como a não participação comunitária pode enfraquecer a estrutura de governança e gestão do território e como os interesses diferentes dos agentes territoriais podem enfraquecer iniciativas locais. Além disso, considerei fundamental apresentar a ação conjunta entre pescadores artesanais e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio); o apoio à iniciativa da comunidade pela qual esse instituto garante a deliberação e implementação de ações conduzidas pelas próprias comunidades referentes à gestão do território; e a existência de interesses distintos em relação ao turismo, o que produz conflitos entre comunitários e instituições. Demonstrei como esse “problema de governança” traduz um desafio à cogestão entre os envolvidos na gestão territorial e como ele é debatido nas reuniões do Conselho Deliberativo da unidade de conservação.

A minha maior dificuldade para a apresentação foi, sem dúvida, o idioma. Apesar de ter estudado inglês no Brasil ao longo de cinco anos, eu nunca havia viajado para um país onde o inglês é o idioma principal. Além disso, minha prática de conversação sempre foi pouca. Meu primeiro desembarque, por exemplo, foi no Aeroporto de Atlanta, capital do Estado da Geórgia, onde as pessoas têm um sotaque bem peculiar que eu jamais havia escutado em salas de aulas. Quando cheguei em Athens, cidade sede da conferência, notei variância breve do idioma, que passa despercebida para praticantes longevos, mas foi algo totalmente novo para mim. Isso não impediu que eu me comunicasse, mas logo me situou em ambiente e cultura totalmente novos.

O fato de eu ter sido recebido por professores praticantes da Língua Portuguesa, Donald Nelson e Gregory Thaler, ambos docentes da UGA, e ter me hospedado na casa de colegas brasileiros me ajudou bastante. Essas circunstâncias, associadas à gentileza e simpatia dos anfitriões, me proporcionaram confiança para que eu pudesse comunicar minha pesquisa em inglês de modo tranquilo na conferência.

Após as apresentações orais de estudantes durante as manhãs, a conferência foi sucedida por diversas palestras muito interessantes proferidas por profissionais renomados. Entre as apresentadoras principais do evento, destaco a pesquisa de Elaine Gan, docente da “Graduate School of Arts & Science” da Universidade de Nova York. Sua prática de pesquisa transdisciplinar – que combina artes, ciências humanas e digitais para explorar a relação entre espécies e paisagens ao longo do tempo – chamou muito a minha atenção para práticas agrícolas que observo em assentamentos rurais na Amazônia brasileira. A associação de uma prática milenar, o cultivo do arroz, entre uma cultura nos Estados Unidos e no Brasil pode ser nítida se analisarmos a herança cultural que o cultivo do grão carrega consigo há quase 2.000 anos, o que a torna uma das culturas mais valiosas do Antropoceno.

Apesar da pouca habilidade na prática comunicativa em inglês, estive atento aos diálogos e absorvi quase tudo graças à habilidade da escuta; que pouco falha, inclusive. No que diz respeito a isso, especificamente, o final do evento foi muito especial. Um grupo de profissionais e estudantes da Música, verdadeiros maestros, adicionaram algumas pesquisas apresentadas ao longo do evento em seus repertórios. Eles não só fecharam o evento com “chave de ouro”, mas realmente demonstraram como ciência e música podem proporcionar momentos de apreciação e aprendizado únicos.

A ICC 2020 reúne profissionais de várias disciplinas a fim de criar canais para que pesquisadores envolvidos em temas de conservação socioambiental compartilhem experiências, metas e objetivos de modo mútuo, debatam e proponham metas de conservação em seus contextos particulares. Afinal, a produção de conhecimentos interdisciplinares em questões relacionadas às ciências agrárias, ambientais e sociais fortalece a formação de profissionais capazes de atuar de forma efetiva na elaboração de políticas públicas para problemas atuais complexos.

De fato, a experiência de contato com estudantes de outros países e pesquisas referentes à conservação ambiental me mostrou como conferências ou quaisquer outros eventos científicos são tão importantes quanto salas de aulas e laboratórios para a formação profissional (e pessoal). Mas além do espaço acadêmico, devo ressaltar que passeios na neve também proporcionaram conversas interessantes não só sobre a pesquisa científica, mas também sobre a vida como estudante de doutorado.

Bate-papo e passeio na neve com estudantes da Universidade da Geórgia e da Universidade da Flórida no Sanford Stadium.

Bate-papo e passeio na neve com estudantes da Universidade da Geórgia e da Universidade da Flórida no Sanford Stadium.

É por isso que digo: não só a composição formal de uma conferência é importante, mas também os encontros e eventos sociais que os acompanham.

Eu realmente apreciei a oportunidade de participar da conferência, que foi possível graças ao apoio financeiro do LACSI. Sou bastante grato por ter recebido esse apoio e por ter comunicado sobre minha pesquisa. De modo geral, percebi que a ICC aponta que a ciência produzida entre profissionais do Brasil e dos Estados Unidos está entrelaçada por uma tendência forte de produzir conhecimento a partir do diálogo entre pessoas de áreas distintas. É particularmente um modo de consolidar iniciativas relacionadas à governança ambiental.

Eu recomendo a alunos e alunas da graduação e pós-graduação a participação de eventos científicos, sejam regionais, nacionais ou internacionais e sugiro que aproveitem também os eventos sociais que os acompanham. Além de ser uma oportunidade de reunião entre colegas cujos temas são próximos de sua pesquisa e, sobretudo, aprendizado com profissionais mais experientes, é um caminho muito importante para conhecer pessoas e formar redes interpessoais.

Possibilidades de Estudo para Brasileiros nos Estados Unidos

Bruno Guimarães Ubiali

Bruno Guimarães Ubiali

Estudar nos EUA – por quê?

Muitos brasileiros têm vontade de estudar no exterior. As razões são diversas – melhorar o inglês, ter acesso a diferentes oportunidades de ensino e pesquisa, ter uma experiência de vida fora do país, ou conhecer outras culturas.

Estudar no exterior, apesar de ter vários desafios, pode ser uma experiência incrível, tanto do ponto de vista de estudo/profissional quanto pessoal.

Aqui quero comentar sobre as oportunidades para brasileiros que têm intenção de estudar fora do país e mostrar como isso pode ser importante, no contexto da Iniciativa para Governança de Recursos Naturais no Brasil (Brazilian Natural Resource Governance Initiative) para se trabalhar questões socio-ecológicas no Brasil.

O foco aqui será em oportunidades de estudo nos Estados Unidos. Quero deixar claro que, com isso, não tenho intenção de argumentar que a educação superior nos EUA é melhor do que no Brasil. São realidades bastante diferentes e ambos países têm diversas vantagens e desvantagens em seus sistemas de ensino. Minha intenção é, contudo, mostrar as oportunidades que existem nos EUA e que são potencialmente mais difíceis e/ou escassas no Brasil, podendo ser um complemento e diferencial interessantes na educação de muitos brasileiros.

A rede de universidades nos Estados Unidos é vasta e os investimentos em pesquisa e educação são altos. Assim, boa parte das pesquisas mundiais são realizadas nos EUA. De uma forma geral, nos EUA também há uma tendência para a interdisciplinaridade do ensino e pesquisa, o que pode tornar ambos mais amplos, relevantes e com maior impacto. Além disso, há muitos estudantes internacionais nas universidades americanas e o contato com essas pessoas pode tornar-se uma experiencia cultural muito enriquecedora.

Prédio da Universidade da Geórgia no campus de Athens.

Prédio da Universidade da Geórgia no campus de Athens.

Desafios e Oportunidades

Infelizmente a possibilidade de financiamento de estudo no exterior para brasileiros diminuiu drasticamente nos últimos dois governos com o fim do Programa Ciência Sem Fronteiras e cortes nas agências financiadoras federais. Porém, a boa notícia é que existem oportunidades de financiamento diretamente pelas universidades americanas. Até onde eu sei, esse financiamento se restringe (ou é muito mais amplo e acessível) à pós-graduação. Então, para quem tem interesse, a minha recomendação é fazer a graduação no Brasil enquanto se prepara para um mestrado/doutorado nos EUA.

Existem vários tipos de bolsas nas universidades americanas que cobrem total ou parcialmente as taxas da universidade (as universidades públicas nos EUA não são gratuitas) e fornecem um salário mensal para o(a) estudante. Assim, além das disciplinas e pesquisas, estudantes de pós-graduação devem trabalhar como assistentes de ensino e/ou pesquisa nas universidades.

Porém, estudar no exterior também envolve diversos desafios. Um deles é a língua, que pode influenciar o desempenho acadêmico por dificultar a expressão oral, escrita e a comunicação de uma forma geral. Chegar em um local sem conhecer ninguém também pode ser difícil, principalmente para quem nunca passou por isso antes. Além disso há dimensões culturais que podem se tornar desafios no dia a dia dos estudantes, como a comida e diferenças nas relações interpessoais.

Por isso, no começo dos programas de pós-graduação há uma orientação específica para estudantes internacionais em que há palestras sobre o que se espera dos estudantes em sala de aula e no trabalho, os valores culturais americanos e os potenciais conflitos entre diferentes culturas. Por terem amplo contato com estrangeiros no ambiente universitário, os americanos sabem lidar bem com essa diversidade. Por exemplo, eles procuram entender e ajudar quando estrangeiros cometem algum erro ou tem alguma dificuldade na comunicação.

Orientação para estudantes internacionais antes do início das aulas.

Orientação para estudantes internacionais antes do início das aulas.

No contexto da iniciativa Brazil Natural Resource Governance Initiative (BNRGI), acredito que o programa interdisciplinar Conservação Integrativa e Antropologia (Integrative Conservation and Anthropology) da Universidade da Georgia é de extremo valor para se tratar questões socio-ecológicas no Brasil. Primeiramente porque une as ciências naturais e sociais, quebrando barreiras entre disciplinas e facilitando a navegação por parte dos estudantes entre esses dois campos de pesquisa. Com isso são consideradas dimensões ecológicas, econômicas, sociais, culturais e políticas na pesquisa em conservação de ecossistemas, tornando-a mais relevante e contextualizada.

Para mim, o que me motivou estudar nesse programa foi justamente essa visão holística dos ecossistemas naturais, as condições de bolsa para estudantes de pós-graduação e as oportunidades de financiamento para pesquisa que, como mencionei, são amplas. O domínio da língua inglesa também possibilita acesso a grande parte da literatura cientifica, o que facilita a pesquisa, publicações e comunicação em eventos internacionais, por exemplo. A distância do Brasil dificulta tanto o contato com a família quanto a logística da coleta de dados no Brasil, mas os programas em pesquisa socio-ecológica geralmente permitem um período extenso de permanência no campo (no caso do programa Conservação Integrativa e Antropologia esse período é de um ano) com possibilidade de financiamento de passagens aéreas bem como de outros gastos relacionados à pesquisa durante esse período.

Quadras de basquete no centro poliesportivo da Universidade da Geórgia.

Quadras de basquete no centro poliesportivo da Universidade da Geórgia.

Processo de seleção e admissão

Aqui quero descrever em linhas gerais como funciona o processo de inscrição para programas de pós-graduação. Ao contrário do Brasil, nos EUA as seleções não envolvem provas nem entrevistas. As inscrições geralmente terminam no mês de dezembro e os resultados são comunicados de fevereiro a março. O primeiro passo, claramente, é escolher os programas e as universidades onde se gostaria de estudar. Uma questão primordial nesse sentido é a escolha do(a) orientador(a). No meu ponto de vista, o orientador pode ser mais importante do que o programa e a universidade, pois é o principal apoio do(a) estudante durante todo o período de estudo. Por isso é importante escolher e avaliar o interesse e disponibilidade de professores que trabalhem em linhas de pesquisa em que se tem interesse.

Uma vez aceito pelo(a) professor(a), pode-se começar a fazer a inscrição para o programa. Esse é um processo longo e que envolve vários requisitos, por isso por ora vou focar nos que eu considero mais importantes. Um deles é a exigência de uma nota mínima no exame TOEFL (Test of English as a Foreign Language), que varia conforme os programas, mas geralmente é em torno de 90 pontos (de um total de 120) para doutorado. Esse é um exame longo e cheio de detalhes, mas a boa notícia é que o TOEFL avalia mais a sua habilidade em fazer a prova, isso é, o seu conhecimento da estrutura do exame e gerenciamento de tempo, do que o seu conhecimento em inglês propriamente dito. Com isso quero dizer que estudar a estrutura do exame é tão importante quanto (ou talvez mais) do que estudar as diferentes habilidades da língua inglesa. Há diversos livros sobre o TOEFL que preparam muito bem para o exame, mas acredito que seja primordial traçar estratégias para cada seção da prova, e isso pode ser feito com a ajuda de uma enorme quantidade de vídeos disponíveis online.

Outro ponto muito importante da inscrição são três cartas de recomendação de professores. Na minha opinião, esse é um dos fatores mais considerados na seleção dos candidatos, pois o comitê de seleção quer saber quem você é. Assim, faz todo sentido fazer essa pergunta a quem já trabalhou com você. No Brasil os processos de seleção não têm essa etapa, por isso os professores não estão acostumados com esse processo. A meu ver, uma boa carta de recomendação deve mostrar o grau de conhecimento que o professor tem sobre o estudante (quanto maior melhor), realçar o quão competente, dedicado, e promissor o estudante é, mostrando que está totalmente apto a iniciar um programa de pós-graduação no exterior. Além disso, quanto mais reconhecido em sua área de atuação for o seu professor, maior peso terá a carta de recomendação.