Estudar nos EUA – por quê?
Muitos brasileiros têm vontade de estudar no exterior. As razões são diversas – melhorar o inglês, ter acesso a diferentes oportunidades de ensino e pesquisa, ter uma experiência de vida fora do país, ou conhecer outras culturas.
Estudar no exterior, apesar de ter vários desafios, pode ser uma experiência incrível, tanto do ponto de vista de estudo/profissional quanto pessoal.
Aqui quero comentar sobre as oportunidades para brasileiros que têm intenção de estudar fora do país e mostrar como isso pode ser importante, no contexto da Iniciativa para Governança de Recursos Naturais no Brasil (Brazilian Natural Resource Governance Initiative) para se trabalhar questões socio-ecológicas no Brasil.
O foco aqui será em oportunidades de estudo nos Estados Unidos. Quero deixar claro que, com isso, não tenho intenção de argumentar que a educação superior nos EUA é melhor do que no Brasil. São realidades bastante diferentes e ambos países têm diversas vantagens e desvantagens em seus sistemas de ensino. Minha intenção é, contudo, mostrar as oportunidades que existem nos EUA e que são potencialmente mais difíceis e/ou escassas no Brasil, podendo ser um complemento e diferencial interessantes na educação de muitos brasileiros.
A rede de universidades nos Estados Unidos é vasta e os investimentos em pesquisa e educação são altos. Assim, boa parte das pesquisas mundiais são realizadas nos EUA. De uma forma geral, nos EUA também há uma tendência para a interdisciplinaridade do ensino e pesquisa, o que pode tornar ambos mais amplos, relevantes e com maior impacto. Além disso, há muitos estudantes internacionais nas universidades americanas e o contato com essas pessoas pode tornar-se uma experiencia cultural muito enriquecedora.
Desafios e Oportunidades
Infelizmente a possibilidade de financiamento de estudo no exterior para brasileiros diminuiu drasticamente nos últimos dois governos com o fim do Programa Ciência Sem Fronteiras e cortes nas agências financiadoras federais. Porém, a boa notícia é que existem oportunidades de financiamento diretamente pelas universidades americanas. Até onde eu sei, esse financiamento se restringe (ou é muito mais amplo e acessível) à pós-graduação. Então, para quem tem interesse, a minha recomendação é fazer a graduação no Brasil enquanto se prepara para um mestrado/doutorado nos EUA.
Existem vários tipos de bolsas nas universidades americanas que cobrem total ou parcialmente as taxas da universidade (as universidades públicas nos EUA não são gratuitas) e fornecem um salário mensal para o(a) estudante. Assim, além das disciplinas e pesquisas, estudantes de pós-graduação devem trabalhar como assistentes de ensino e/ou pesquisa nas universidades.
Porém, estudar no exterior também envolve diversos desafios. Um deles é a língua, que pode influenciar o desempenho acadêmico por dificultar a expressão oral, escrita e a comunicação de uma forma geral. Chegar em um local sem conhecer ninguém também pode ser difícil, principalmente para quem nunca passou por isso antes. Além disso há dimensões culturais que podem se tornar desafios no dia a dia dos estudantes, como a comida e diferenças nas relações interpessoais.
Por isso, no começo dos programas de pós-graduação há uma orientação específica para estudantes internacionais em que há palestras sobre o que se espera dos estudantes em sala de aula e no trabalho, os valores culturais americanos e os potenciais conflitos entre diferentes culturas. Por terem amplo contato com estrangeiros no ambiente universitário, os americanos sabem lidar bem com essa diversidade. Por exemplo, eles procuram entender e ajudar quando estrangeiros cometem algum erro ou tem alguma dificuldade na comunicação.
No contexto da iniciativa Brazil Natural Resource Governance Initiative (BNRGI), acredito que o programa interdisciplinar Conservação Integrativa e Antropologia (Integrative Conservation and Anthropology) da Universidade da Georgia é de extremo valor para se tratar questões socio-ecológicas no Brasil. Primeiramente porque une as ciências naturais e sociais, quebrando barreiras entre disciplinas e facilitando a navegação por parte dos estudantes entre esses dois campos de pesquisa. Com isso são consideradas dimensões ecológicas, econômicas, sociais, culturais e políticas na pesquisa em conservação de ecossistemas, tornando-a mais relevante e contextualizada.
Para mim, o que me motivou estudar nesse programa foi justamente essa visão holística dos ecossistemas naturais, as condições de bolsa para estudantes de pós-graduação e as oportunidades de financiamento para pesquisa que, como mencionei, são amplas. O domínio da língua inglesa também possibilita acesso a grande parte da literatura cientifica, o que facilita a pesquisa, publicações e comunicação em eventos internacionais, por exemplo. A distância do Brasil dificulta tanto o contato com a família quanto a logística da coleta de dados no Brasil, mas os programas em pesquisa socio-ecológica geralmente permitem um período extenso de permanência no campo (no caso do programa Conservação Integrativa e Antropologia esse período é de um ano) com possibilidade de financiamento de passagens aéreas bem como de outros gastos relacionados à pesquisa durante esse período.
Processo de seleção e admissão
Aqui quero descrever em linhas gerais como funciona o processo de inscrição para programas de pós-graduação. Ao contrário do Brasil, nos EUA as seleções não envolvem provas nem entrevistas. As inscrições geralmente terminam no mês de dezembro e os resultados são comunicados de fevereiro a março. O primeiro passo, claramente, é escolher os programas e as universidades onde se gostaria de estudar. Uma questão primordial nesse sentido é a escolha do(a) orientador(a). No meu ponto de vista, o orientador pode ser mais importante do que o programa e a universidade, pois é o principal apoio do(a) estudante durante todo o período de estudo. Por isso é importante escolher e avaliar o interesse e disponibilidade de professores que trabalhem em linhas de pesquisa em que se tem interesse.
Uma vez aceito pelo(a) professor(a), pode-se começar a fazer a inscrição para o programa. Esse é um processo longo e que envolve vários requisitos, por isso por ora vou focar nos que eu considero mais importantes. Um deles é a exigência de uma nota mínima no exame TOEFL (Test of English as a Foreign Language), que varia conforme os programas, mas geralmente é em torno de 90 pontos (de um total de 120) para doutorado. Esse é um exame longo e cheio de detalhes, mas a boa notícia é que o TOEFL avalia mais a sua habilidade em fazer a prova, isso é, o seu conhecimento da estrutura do exame e gerenciamento de tempo, do que o seu conhecimento em inglês propriamente dito. Com isso quero dizer que estudar a estrutura do exame é tão importante quanto (ou talvez mais) do que estudar as diferentes habilidades da língua inglesa. Há diversos livros sobre o TOEFL que preparam muito bem para o exame, mas acredito que seja primordial traçar estratégias para cada seção da prova, e isso pode ser feito com a ajuda de uma enorme quantidade de vídeos disponíveis online.
Outro ponto muito importante da inscrição são três cartas de recomendação de professores. Na minha opinião, esse é um dos fatores mais considerados na seleção dos candidatos, pois o comitê de seleção quer saber quem você é. Assim, faz todo sentido fazer essa pergunta a quem já trabalhou com você. No Brasil os processos de seleção não têm essa etapa, por isso os professores não estão acostumados com esse processo. A meu ver, uma boa carta de recomendação deve mostrar o grau de conhecimento que o professor tem sobre o estudante (quanto maior melhor), realçar o quão competente, dedicado, e promissor o estudante é, mostrando que está totalmente apto a iniciar um programa de pós-graduação no exterior. Além disso, quanto mais reconhecido em sua área de atuação for o seu professor, maior peso terá a carta de recomendação.